- Tribuna da Bahia
Ciro eleva o tom e ataca Bolsonaro em Salvador

O ex-governador do Ceará e ex-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, desferiu duros ataques contra o governo Bolsonaro em uma palestra realizada ontem, na Assembleia Legislativa da Bahia. Com o tema “180 dias de um governo que desmorona”, ele fez uma análise dos resultados do Governo Bolsonaro a partir dos dados garimpados e examinados pelo Observatório Trabalhista, uma plataforma que foi criada para coletar, distribuir e estudar os números oficiais do governo nas diversas áreas. "Estamos vivendo a pior crise da história do Brasil", destacou.
À exposição dos dados, Ciro Gomes junta sua experiência de advogado e especialmente homem público que já exerceu os cargos de prefeito, governador e ministro para compartilhar com a plateia sua visão do Brasil atual. Segundo o pedetista, "por causa da polarização, não existe mais ciência, existe ser simpático ou não a determinado político". "Nenhuma nação sobrevive a isso. O Brasil está correndo o risco de se desintegrar como nação". Durante a explanação, Ciro avaliou os indicadores econômicos do país e sentenciou: "O Brasil tende a terminar o ano com um buraco orçamentário".
Ciro ponderou que o problema que o novo presidente recebeu é muito grave, mas que "está piorando o cenário da crise". "Bolsonaro tem apenas seis meses de governo, ele pode mudar e melhorar, mas desse momento estamos comparando os seis meses dele com o dos outros presidentes", apontou. “O governo Bolsonaro está trazendo a economia de volta para a recessão nesses seis meses. A economia brasileira em 2019 foi jogada na lata do lixo. É um ano perdido para o Brasil. O maior empobrecimento do Brasil aconteceu em 2016, o ano do impeachment”. A mesa da palestra foi composta pelos deputados estaduais Luciano Simões (DEM) e Roberto Carlos (PDT) e do presidente do PDT em Salvador, Alexandre Brust. Durante o evento, Ciro também foi apresentado como candidato em potencial para a eleição de 2022. "Em breve teremos o maior presidente da história do Brasil", discursou Roberto Carlos, na abertura do evento.
Antes de Salvador, Ciro passou por Ilhéus, onde participou do 45° Encontro Nacional de Estudantes de Economia (Eneco), na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). O pedetista não parou de circular o Brasil com o final das eleições, retomando a presença em painéis e debates logo passados alguns meses do início do ano.
Impeachment
Questionado se o presidente Jair Bolsonaro finalizará o mandato ou se sofrerá derrubada antes de completar os quatro anos, o oposicionista foi enfático: "Impeachment é um erro que não podemos mais cometer". "O impeachment não é remédio para governo ruim. Disse isso quando pediram o impeachment do Fernando Henrique Cardoso e também disse isso no impeachment de Dilma. Sou contra qualquer iniciativa que não corresponda ao crime doloso e de responsabilidade. Não vejo isso no governo Bolsonaro. O que ele está fazendo é um governo trágico", explicou. Para Ciro, a recessão econômica foi trazida para a gestão de Bolsonaro. Segundo ele, a disputa entre petistas se dá porque um retroalimenta o outro.
O ex-presidenciável pedetista também falou sobre os vazamentos contra a Operação Lava Jato, iniciados pelo site The Intercept Brasil. Ele defendeu a liberdade de imprensa e a saída do ministro Sérgio Moro da pasta da Justiça. "Não interessa se ele [Lula] tem razão ou não, e eu não acho que o Lula seja muito inocente mesmo, não", declarou. "Mas nenhum pais do mundo sério admite um juiz condenar um politico e, depois, ser ministro do político que ganhou a eleição porque o político condenado não pôde disputar".
Sobre a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de suspender inquéritos que se baseiam em relatórios do Coaf, Ciro diz que tal medida beneficiará o entorno dos bolsonaristas. A suspensão se deu por um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL). "Nós estamos engolindo tudo isso por causa disso, por causa desse radicalismo. E isso favorece ao Bolsonaro. Tudo bem, o juiz é maravilhoso. Se não favorece, pede na rua pra fechar o Supremo Tribunal Federal. Desse jeito vão destruir o Brasil".
Ex-governador do Ceará minimiza críticas contra Rui Costa
O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), minimizou uma crítica feita ao governador Rui Costa (PT) na semana passada. Ele disse que o baiano atuou nos bastidores para que parlamentares votassem a favor da Reforma da Previdência. "Tenho pelo governador Rui apreço, estima e amizade. Há muita intriga nesse ambiente. Não fiz isso para agredir o governador. Quem governa tem como primeira obrigação as contas do seu estado. Lembro que apoiei o governador Rui Costa", declarou em coletiva de imprensa após a palestra na capital baiana. Segundo Ciro, as críticas foram feitas porque os petistas atacaram os parlamentares pedetistas que votaram a favor da Previdência, a exemplo de Tábata Amaral. "Lembrei apenas que os governadores do PT e do PCdoB também atuaram pesadamente a favor da previdência".
Ciro Gomes não quis se posicionar se é a favor ou contra da expulsão dos parlamentares que votaram a favor da Previdência, mas lembrou que o Brasil precisa de "integridade". "Como sou membro da executiva nacional e tenho uma certa ascendência sobre o partido, não seria ético que, nesse momento em que os nossos companheiros estão aguardando uma decisão do conselho de ética, eu antecipasse qualquer tipo de opinião".
Expulsão
O presidente do PDT em Salvador, Alexandre Brust, se esquivou de opinar sobre uma eventual expulsão do deputado federal Alex Santana (PDT). Oito parlamentares da sigla, incluindo o baiano, foram punidos pelo apoio a Reforma da Previdência. O partido decidiu também que até o fim do processo os deputados ficarão suspensos de suas atividades partidárias. Segundo ele, todos os parlamentares concordaram previamente em votar contra a matéria de interesse do governo Bolsonaro. "Participei da convenção nacional no dia 18 de março em Brasília e foi unânime a decisão do partido fechar questão (contra a reforma)", destacou. "Têm várias decisões, quem vai decidir é a Comissão de Ética". Questionado se é a favor da expulsão, Brust prefere não opinar. "Não tenho opinião. Quem tem opinião é a Comissão de Ética", esquiva-se.