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'Ainda Estou Aqui' ganha Oscar de Melhor Filme Internacional: a trajetória da produção que leva primeiro prêmio para o Brasil

Foto do escritor: Da redaçãoDa redação

Legenda da foto, Walter Salles e Fernanda Torres compareceram à cerimônia do Oscar
Legenda da foto, Walter Salles e Fernanda Torres compareceram à cerimônia do Oscar

O filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025, segundo decidiu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas neste domingo (2/3), que deu a estatueta à produção brasileira (leia aqui todos os vencedores).


"Esse filme vai para uma mulher que, após uma perda enorme por um regime autoritário, decidiu não se render: Eunice Paiva", discursou Salles, que dedicou o prêmio às duas atrizes que encarnam a viúva na produção: Fernanda Torres e a mãe dela, Fernanda Montenegro.


É a primeira vez que uma obra do Brasil ganha o prêmio, dado nesta categoria aos longa-metragens produzidos fora dos Estados Unidos e com diálogos predominantemente em uma língua diferente do inglês.


Em 1960, o filme Orfeu Negro venceu na categoria de Melhor Filme Internacional (então "filme estrangeiro"). Mas, apesar de ter sido filmado no Brasil, falado em português e com atores brasileiros, a produção garantiu um Oscar à França, país do diretor Marcel Camus.


Impulsionado pela crítica

Desde que filme brasileiro começou a ganhar tração internacionalmente com suas participações em festivais, críticos do mundo inteiro começaram a escrever sobre ele — na maior parte, de maneira elogiosa.


A produção atingiu 97% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes, uma plataforma que agrega avaliações da imprensa especializada. O índice alto foi atingido com a média de 156 críticas em sites de cinema em todo o mundo.


O longa, por exemplo, entrou na lista dos melhores filmes de 2024 da BBC.

Para Caryn James, crítica de cinema da BBC, Ainda Estou Aqui era muito mais que "um azarão [na corrida do Oscar]".


"Por trás dessas [três] indicações [do filme ao Oscar] está uma mistura alquímica do pessoal, do político e do artístico. Poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de uma forma tão íntima, visceral ou oportuna, chegando em um momento em que a ascensão do autoritarismo se tornou uma preocupação global", diz James.


O jornal britânico The Times descreveu Ainda Estou Aqui como "um dos maiores filmes sobre maternidade", comparando-o a clássicos como Mildred Pierce e Room (Quarto, em português).


A crítica destaca a autenticidade do filme brasileiro e a transformação de Eunice, interpretada por Torres, cuja busca incansável por justiça e fechamento ao longo de quatro décadas impulsiona a narrativa.


Para Walter Salles, na entrevista à BBC News Brasil, "não é um filme que está sendo reconhecido, e sim toda a cinematografia brasileira."


"Esse filme, mais do que qualquer outro que dirigi, foi feito para oferecer um reflexo do Brasil em um momento complexo de sua história, para o público brasileiro. Esse é o propósito do filme. Depois vêm os prêmios que o filme pode vir a receber, ou não", disse o cineasta.


A crítica de cinema brasileira Isabela Boscov disse que Ainda Estou Aqui representa um novo fôlego para a indústria nacional de cinema.


Um papel semelhante ao que Central do Brasil — também dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Montenegro — desempenhou quando foi lançado, em 1998.

"Naquele momento, a retomada do cinema brasileiro era algo recente", disse Boscov.

"Walter Salles fez um filme sobre o terror político e social do período Collor, que foi Terra Estrangeira. Depois, Central do Brasil surgiu como uma possibilidade de um novo pacto social, de uma retomada da ética e da valorização do cinema", prossegue.


"Estamos passando por algo parecido agora, depois de um período em que a cultura foi muito massacrada no país."


Peter Bradshaw, crítico britânico do The Guardian, escreveu que "o filme – na sua lealdade ao autocontrole da própria Eunice – ignora o horror e a raiva que certamente também devem estar presentes em algum lugar desta história.


"Os créditos finais, nos contando brevemente em que data Rubens foi assassinado, e também a data em que quatro agentes de segurança foram finalmente acusados, mas não condenados, são, retroativamente, desconcertantes. Há um mundo de drama e indignação nessas breves informações, mas isso nunca chega realmente ao filme", escreve Bradshaw.


Na opinião do jornalista e cinéfilo Saymon Nascimento, "críticas não existem para que você concorde com elas, mas para abrir horizontes".


Para ele, Ainda Estou Aqui restringe seu olhar sobre a ditadura militar à esfera familiar e ao luto de Eunice Paiva.


"O filme tem algum tipo de resistência a ser político de fato", argumenta.


Na Folha de S. Paulo, o crítico Inácio Araújo fez comentários semelhantes.


"Toda vez que o cinema de Walter Salles deriva para um tema ou personagem direta ou indiretamente político, sua delicadeza tende a levar esse tema para uma esfera curiosamente apolítica".

 

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